Pesquisadores da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), do Rio de Janeiro, estiveram nesta semana em Rio do Oeste para apresentar os resultados preliminares de um estudo realizado em conjunto com a Escola Nacional de Saúde Pública, que faz um diagnóstico da saúde dos fumicultores da cidade. Alguns dados chamam a atenção como por exemplo o fato de 100% das famílias atuarem há mais de 10 anos no setor.
O município foi escolhido para sediar o estudo e agentes da Secretaria Municipal de Saúde promoveram visitas durante todo o ano de 2019 em aproximadamente 100 propriedades. O grupo elaborou um mapeamento que será divulgado em abril, no entanto a reportagem do DAV teve acesso a algumas informações que revelam a situação da saúde do fumicultor na região.
Conforme a fiscal sanitária sênior, Alci Léia Dalmônico Padilha, a pesquisa tem objetivo de gerar dados para a elaboração de um protocolo para atendimento dos produtores de tabaco.
“Os produtores responderam a um questionário e o resultado irá auxiliar na estratégia de saúde referente ao fumicultor. O produtor de fumo tem uma rotina diferenciada se comparada a outros trabalhadores rurais”, comenta.
De acordo com a pesquisa, 100% dos entrevistados utilizam agrotóxicos e, desse total 97,6% recorrem ao uso de Equipamento de Proteção Individual (EPI).
“É um dado muito bom porque demonstra que a maioria dos agricultores utiliza o equipamento de proteção, o que pode evitar inúmeras doenças”, ressalta.
Outra característica que chama atenção é referente ao índice de famílias que trabalham há mais de 10 anos com a fumicultura.
“Todos os entrevistados afirmaram que trabalham há mais de 10 anos na fumicultura. 100% das pessoas entrevistadas também informaram que não tiveram outra ocupação, se não a agricultura”, completa.
Índices que preocupam
O Brasil é considerado o país mais ansioso e estressado da América Latina. Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), nos últimos 10 anos o número de pessoas com depressão aumentou 18,4%, isso corresponde a 322 milhões de indivíduos, ou 4,4% da população da Terra. Na agricultura, a taxa de pessoas com alguma doença psicológica também assusta e em Rio do Oeste o cenário não é diferente como apontou o estudo de forma preliminar.
Conforme o ex-fumicultor, Ordilei Moraes, que atualmente é agente de saúde, os distúrbios depressivos em fumicultores podem ser associados ao uso dos agrotóxicos e o manuseio do próprio fumo, porém a principal razão ainda são os problemas pessoais.
“Questão financeira, problemas com a família e a própria rotina que é muito pesada”, analisa.
O taxa de produtores de tabaco com algum distúrbio osteomuscular também pode ser considerada preocupante.
“Durante o período de colheita, o trabalho é exaustivo, por isso é comum testemunhar produtores que reclamam de dores no corpo”, explica Moraes.
Segundo Alci Léia, a pesquisa não servirá somente para a criação de um protocolo de atendimento de saúde exclusivamente aos fumicultores, mas, para todo e qualquer trabalhador rural.
“Iniciamos pela fumicultura porque é um trabalho sazonal e diferenciado, mas o levantamento será realizado em outros culturas”, ressalta.
Por: Jorge Matias/Jornal Diário do Alto Vale