As leitarias vivem um momento de incertezas. Cenário conta com os preços dos insumos em alta, consumo de leite está estagnado e produção em queda. No início de 2020, os valores pagos pela produção de leite estão estabilizados. Constatação pode ser feita a partir dos resultados da primeira reunião do Conselho Paritário Produtor/Indústria de Leite do Estado de Santa Catarina (Conseleite/SC).
Conselheiros estiveram reunidos na sexta-feira (24). Dessa vez, os trabalhos foram deliberados em Joaçaba.
Pelo tratado, valores do decêndio de janeiro irão vigorar para o decênio entre 30 de dezembro de 2019 e 19 de janeiro de 2020. Também esteve em debate a consolidação dos valores no período de dezembro de 2019.
Acordo prevê remuneração de R$ 1.4989 ao litro de leite com qualidade acima do padrão. Valor representa retração de R$0,0050 ao litro, ou 0,3% do total, já que em dezembro o valor consolidado foi R$ 1.5039.
Produção com qualidade considerada padrão terá remuneração de R$ 1.2186 ao litro. Comparado com dezembro, quando o preço consolidado foi R$ 1.2227, a redução será de R$ 0,0041.
Leite com qualidade abaixo do padrão terá decréscimo de R$ 0,0038 por litro. Preço consolidado foi de R$1,1321 e a estimativa é para que fique em R$1,1283.
Os valores estipulados são para a produção posta na propriedade. Tarifação de Funrural está incluso no valor anunciado.
2019
O setor pecuário é um dos maiores distribuidores de renda do Brasil. Depois de muitos anos de crescimento, o setor vive um momento de estagnação. De acordo com a Embrapa Gado de Leite, em 2018 houve crescimento de 0,5% e em 2019 é estimado crescimento entre 2 e 2,5%.
Valores praticados no mercado brasileiro podem ser considerados razoáveis. A média nacional de valores pago aos produtores fechou 2019 em R$1,36. A monta corresponde a 0,33% de dólar, considerando que o câmbio fechou o ano em R$4,06. Resultado aponta equilíbrio entre custo de produção e remuneração do produto.
Em 2019, o custo de produção manteve-se estável. Pesquisador da Embrapa, Glauco Carvalho, relata que o primeiro semestre de 2019 fechou com os melhores patamares de preço, quando comparados com os últimos sete anos. “Além de receber preços melhores, houve um incremento importante na relação entre o preço do leite e o custo da alimentação animal”, afirma. Acrescenta que milho e soja, principais componentes da alimentação bovina, permaneceram relativamente baixos.
Quanto à indústria, na visão de Carvalho, 2019 foi bem mais desafiador, sobretudo para aquelas empresas focadas em linhas tradicionais, como leite UHT, queijo muçarela e leite em pó. “O gargalo do ano tem sido o baixo nível do consumo doméstico e a dificuldade de repasse de preços ao longo da cadeia produtiva”, constata o pesquisador.
2020
Especialistas da Embrapa avaliam que o ano que se inicia traz componentes de incerteza, tanto no ambiente interno quanto no externo. Internamente, pesa a articulação política e como o Governo vai tocar a agenda de reformas. No contexto internacional, a peste suína ocorrida em 2019 na China pode ter reflexos também em 2020 já que a doença está atingindo outros países asiáticos.
O problema na suinocultura chinesa, que reduziu em 40% o número de suínos naquele país, provocou o aumento das exportações de carne para a China – o que elevou a demanda por soja e milho na pecuária de carne. Os preços desses insumos tendem a se manter mais pressionados. Além disso, as exportações brasileiras de milho estão batendo recordes. Carvalho informa que se tem ainda uma nova demanda oriunda de plantas de etanol de milho. “Pode haver muita volatilidade nos preços do concentrado até que seja definida a safrinha de milho no meio do ano”.
Do ponto de vista da oferta e demanda, em linhas gerais, o mercado brasileiro de leite se mostra bem equilibrado. A expansão da produção nacional perdeu força no final do ano passado, na comparação com 2018. Além disso, o volume de importação está relativamente baixo e, apesar do consumo estar fraco, não há excedente de produção que possa levar a uma queda nos preços. Pelo contrário, as cotações se sustentaram no último trimestre do ano, quando geralmente os preços caem.
Felipe Alípio/ Destaque Regional/RCN